segunda-feira, novembro 14

Soccer Mom

Não critico quem assuma o papel de mãe a tempo inteiro. Mas esta não será uma anulação da própria pessoa quando assume o papel de mãe? Hoje deparei-me com uma dessas mães. Decidiu à primeira filha ser mãe a tempo inteiro. Decidiu abdicar de luxos e privilégios e embora não seja rica, antes pelo contrário. Esta mãe de que falo embora não passasse fome e muito menos na abundância, decidiu abdicar do apoio estatal do rendimento social de inserção, visto ser opção sua abdicar da profissão e uma vez que existem mais pessoas a necessitar disto. Mas ao fim de 9 anos esta mãe deseja ansiosamente por arranjar um trabalho. Não quer um trabalho para enriquecer, quer um trabalho para "ver pessoas", pessoas que não façam parte do dia-a-dia, que não sejam família, vizinhos e afins. Esta mãe sente neste momento uma culpa imensa por querer assumir o papel do Eu enquanto indivíduo em vez de se assumir como mãe do S. e da C. Está numa grande divisão de consciência. Se por um lado quer realizar-se pessoalmente e profissionalmente e abrir o círculo de convivência, por outro é chamada à atenção pelas suas pessoas se não estará a negligenciar os seus filhos. Até quando as pessoas vão continuar a viver em função dos filhos e se esquecem de se colocar a si mesmas na equação? Não chega de soccer mom's que assumem esse papel e vivem felizes e ao final de alguns anos reflectem nos filhos as frustrações devido às mudanças que as crias lhes causaram? Não chega de mulheres a conformarem-se que viverem em função dos filhos é a sua realização pessoal? Pode ser assim por algum tempo? não pode ser assim para sempre. Não é fisicamente nem humanamente possível. Onde está a individualidade? É assim tão mau ser-se mãe e ser-se indivíduo ao mesmo tempo. Gostar-se-á menos dos filhos só porque se busca a felicidade mesmo que isso faça mudar as rotinas aos meninos, mesmo que isso faça com que tenha de mudar de terapeuta, mesmo que isso faça com que tenha de almoçar na escola? São perguntas e muitas opiniões de quem não passou nem passará tão cedo pela experiência da maternidade. Depois do que ouvi hoje cada vez mais tenho a certeza da pessoa invejosa que sou para poder abdicar da minha própria pessoa em função de um mini-ser. 
Creio que deve ser preciso uma enorme sanidade mental, muito acima da média, para se conseguir gerir todo o conjunto de sentimentos em relação a este assunto, por um lado mãe que trabalha (e negligencia a cria, ou não) e por outro lado a mãe que fica em casa mas que futuramente acabará por estar infeliz por não saber gerir a manutenção de si enquanto indivíduo. Atenção que não critico, mas de certa forma intriga-me esta capacidade de abdicar uma vida em função de uma nova vida...deve ser isto que chamam de maternidade e eu não compreendo.
Aparte da conversa que hoje tive com uma unhappy soccer mom, resta-me dar a minha experiência enquanto filha com mãe a trabalhar. Desde o ano e meio que fui para o infantário e nunca por nunca me senti negligenciada, nem com menos afecto. Parte tudo de um equilíbrio em que a tudo devo aos meus pais por saberem gerir tão bem os trabalhos e a capacidade de estarem disponíveis de ao chegar a casa serem pais e tornarem momentos em recordações que fizeram de mim uma criança feliz.

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