terça-feira, julho 6

Os Incríveis

Não são os jogadores da selecção que ganham milhares para dar pontapés numa bola. Incríveis são as pessoas com paciência suficiente para aguentar na sala de espera da segurança social.
Tudo isto porque preciso de algo tão simples como um papel que declare a ausência de dívidas para com esta instituição. Para isto foram preciso aguentar algumas horas numa fila para posteriormente entregar um documento na delegação do Saldanha. Isto eu ainda aguento, agora acordar cedo na sexta passada para entregar o dito cujo e os funcionários estarem de greve. Ainda ontem, logo após o trabalho chego ao Saldanha às 12h e já não há senhas para o serviço que necessito. Hoje decidi vir até à segurança social pelas 9h e pouco e assim sou apenas o nº 31...de facto o número é pequeno, o que poderia ser rápido se a senhora do atendimento não tivesse chegado às 9h30 e atrasado todos os utentes. Desde que cheguei, às 12h30 ainda só vai no nº17, e eu que sou o 31. Do 17 ao 31 apenas nos separam 14 pessoas, mas o tempo de espera não é proporcional aos poucos números que faltam.
Até que a espera podia ser mais agradável, mas para isso teria de haver mais lugares sentados e de preferência que não fossem em cima de uma banco de metal manhoso, que devem ter sido inventados como forma de tortura noutra época qualquer. Desespero. Senhoras que conversam sobre os maus vizinhos. Tento adormecer, mas o "ping" constante (ou não) dos números dos guichets despertam-me constantemente, mantendo-me em alerta para a tão ansiada vez. Como se não bastasse a única tv que possui, passa apenas informação deles, bem que podiam colocar num dos canais generalistas, assim nem se notaria tanto o tempo a passar e sempre distraíamos a mente. O tempo corre e lá fora está um calor que convida a banhos e eu aqui a envelhecer nestes duros bancos. Um senhor fala alto acerca do email que tem de enviar. Outra senhora em conversa com uma segunda apenas vai pontuando o diálogo com "sim, sim, sim", alternando com um "pois, sim", este discurso é sempre feito com o mesmo tom monocórdico a par com o irritante "ping" da passagem dos números. Agora reparo que para senhas diferentes existe apenas uma mesa em atendimento, nas quais se insere a minha claro. Telemóveis tocam. Escrevinha-se. Conversa-se. Folheiam-se jornais. Joga-se sudoku. Desabafa-se. Adormece-se. Levantar, sentar. Sentar, levantar. Suspiros e desabafos desesperados de pessoas que esperam à horas excessivas. Meto música nos meus ouvidos, torno-me autista, focando-me apenas nos números estáticos da tv. Abstraio-me mas à minha volta tudo se passa. Sala cheia. Pessoas aborrecidas. Senhor de idade vislumbra o corpo de uma trintona à descarada. As senhoras que continuam a falar sobre as suas vidas. E o meu ipod canta
Yeah, how long must you wait for...

Yeah, how long must you pay for...

Eu própria desespero. Apetece-me sair e aproveitar o dia, em vez de estar neste banco que me estupidifica, mas depois só iria atrasar a minha vida com o tão ansiado papel por entregar. Alguém solta em voz alta palavrões indignados. Escreve-se no livro de reclamações e mais ninguém se pode queixar, pois o livro está cheio. Estou desesperada. Corpo dói. Mente entorpece.
"Ping", surge o 31...
...pagar...
...esperar...
"Ping", são 14h30 e saio para o quente da rua.

2 comentários:

Faleiro disse...

Como te compreendo!!!

Já me revoltei "bloguescamente" contra isso há uns tempos valentes...

http://faleiro-fnhe.blogspot.com/2008/08/segurana-social.html

Jonas disse...

normalissimo... e ainda se queixa essa gente q tem um mau horário de trabalho, sim q essa foi uma das causas da greve de sexta. É q trabalhar das 9 ás 16.30 com intervalos e conversas pelo meio é complicado realmente, não é qq pessoa q aguenta