segunda-feira, maio 16

Estereotipando a cidade

Quando se fala em sem-abrigo imaginamos logo o rosto queimado pela tristeza que nos impede de apontar a idade, o olhar triste e perdido, a expressão alucinada, as roupas mal-tratadas e tantos outros estereótipos associados a estas pessoas. Mas, tudo foge ao estereótipo, quando à porta de um Mc Donalds da capital vemos um jovem com bom ar, barba aparada, roupa e mochila com ar de quem ia ou vinha da faculdade. Pelo rosto pouco aparenta mais que os 28 anos, mas o olhar grita de fome. Ele pede à porta que alguém lhe dê algo para comer. Eu comento com Ele, Ele antecede o meu pensamento e levanta-se deixando o seu Sundae a meio e vai oferecer-lhe um menu. Na realidade não é apenas uma refeição, é a sua refeição de aniversário. Teve azar na vida, um grande azar que pelos vistos está prestes a dar a volta por cima. Mas aquele olhar de fome puxa os meus pés, abre-me as pálpebras para a cidade triste que se está a debaixo dos nossos narizes. Logo de seguida, vemos um estereótipo de olhar vago, de cabeça tapada por uma toalha como se isso impedisse de sentir a chuva e até mesmo o frio...é esta a cidade com que estamos a ficar. Uma cidade com olhares de fome, onde até os sem-abrigo já não são apenas os perdidos de espírito, mas os perdidos na vida que poderiam ser confundidos com qualquer um de nós na rua.
Chego a casa e a Oprah está a oferecer viagens à Austrália, se antes achava que só eu tinha azar de também não ganhar uma viagem, hoje, dou graças pelo que tenho!
E agora, ficamos indiferentes perante isto??

1 comentário:

Pitinot disse...

Nó na garganta..
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