quinta-feira, agosto 11

Como abrir uma conta conjunta em três tempos...

...Que não existem receitas para este tipo de coisas já se sabe agora imaginar o quão difícil esta tarefa está a ser não passa pela cabeça de ninguém. 
Para começar tem que se dirigir à entidade bancária, qualquer uma, não interessa qual em especial. Questiona-se os documentos necessários, pedem-se papéis, leva-se para casa, assina-se, tira-se cópias do necessário, arranja-se recibos de vencimento e torce-se para que tudo corra bem.
Recebe-se cartas e mais cartas do banco, a dar as boas vindas, a senha dos cartões de acesso e do acesso via net, cartões de multibanco e aparentemente tudo bem.
Mas não corre e aqui vamos nós.
Entidade bancária contacta e refere que necessita de comprovativo de moradas de coisas como contas e afins. 
1º Obstáculo - a única conta em nome de um dos jovens é de um serviço de tv por cabo e as restantes contas estão em nome do senhorio, visto a despesa que isso acarreta. Pega-se nessa carta e nas restantes que o banco enviou para comprovar as mesmas. Sendo que, no meio de tudo isto, não se percebe como não estando a abertura de conta concluída se recebem cartas do mesmo, e mais cartas e cartões?!
2º Obstáculo - o comprovativo de morada de um dos jovens é a cópia de um documento enviado pela própria instituição. Então para que o enviam, a questão mantém-se.
Acabam por decidir em ir às Finanças, aquela instituição que todos nós tememos para pedir alteração de morada fiscal. Entregam-se cópias dos documentos e torce-se para que tudo corra bem. Fazem-se consultas ao saldo e tudo operacional, aparentemente, já com a dedução do imposto de selo e sabe-se lá mais o quê de despesas de manutenção de uma conta que na realidade está para ser aberta vai por esta altura um mês. Tenta levantar-se dinheiro, fazer pagamentos e dá a operação como não permitida pelo banco. Vergonha e embaraço é o que se sente. Sorte a do casal de ter ainda abertas as restantes contas. Consulta-se o banco, a senhora que inicialmente tratou do processo está de férias. Segue-se o senhor sorridente que muito disponível dá voltas e voltas, repete o processo e refere que ficará tudo operacional. Logo nessa mesma tarde tenta-se e nada. Espera-se um, dois dias e nada ainda, conta bloqueada. Regressa-se ao banco e conversa-se com o senhor do banco. Repete o processo e desta é que é.
Faz-se uso do cartão durante dois dias, chega segunda e nada. 
Afinal não corre bem e aqui vamos nós outra vez.
Conversa-se com os senhores e dizem que os fofos do Banco de Portugal é que bloqueiam a conta. Averiguam melhor e ligam ao casal, comprovativo de morada fiscal não tem credibilidade junto dos fofos do Banco de Portugal, é necessário um comprovativo de morada da Junta de freguesia.
Acorda-se cedo e segue-se para a Junta de freguesia.
3º Obstáculo -  nenhum dos dois é recenseado e/ou já alterou a morada no documento de identificação.
Hipóteses levantadas, ir mudar a morada do documento de identificação ou então arranjar duas testemunhas recenseadas na zona. Tendo em conta que não conhecem ninguém pouco adiantam testemunhas. Resta mudar a morada. Juntam-se todos os documentos necessários e segue-se para uma loja do cidadão que é já quase hora de almoço com tanta volta.
4º Obstáculo - Já não há senhas para fazer cartão do cidadão. (Cartão no qual a morada que irão alterar será a apresentada na morada fiscal...só para rir mesmo)
Como nada mais há a fazer senão acordar cedo no próximo dia para se tratar do cartão resta ir almoçar e aproveitar o dia que metade já foi.
Ah e para quem pense que abrir uma conta seja fácil vá tirando pelo menos um mês de férias que o jovem casal já anda nisto desde o dia 13 de Junho...fazem quase dois meses e este é o país onde para abrir uma simples conta é preciso caminhar muuuuuuuuito, andar por portas e travessas, seguir caminhos estranhos e sinuosos, onde existem obstáculos a cada momento de aparente paz. Este é o mesmo país onde economistas apelam a que se deixe de colocar o dinheiro debaixo do colchão e que se coloque nos bancos para que a economia do país cresça. É o país onde se necessita deste tipo de situações regularizadas para se comprovar como o casal iniciou a vida em conjunto para que daqui a um punhado de anos se possa afirmar em "união de facto" para as instituições governamentais. Este é o mesmo país onde se os fofos do Banco de Portugal não aceitarem os valores apresentados nos recibos de vencimento não permitem que a conta seja aberta. E é este o nosso Portugal à beira mar plantado, onde abrir uma conta é semelhante a uma obra dos Lusíadas de tão extensa e maçadora que se torna.
O casal na realidade só quer mesmo abrir uma conta, não quer comprar casa, nem carro, nem batedeira, nem raio-que-o-parta, só querem uma contita!!

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