quarta-feira, junho 25

A quem me tem perguntado como está a minha avó, pois que lá está...continua há espera da sua vaga na rede de cuidados continuados e enquanto isso vai-se fazendo a reabilitação como se permite fazer. Recuperou pequeninas coisinhas mas tantas outras estão por obter e mais umas quantas perdidas para todo o sempre.
Eu? Eu continuo a não aceitar bem tudo isto, recusando-me mesmo a ir visitá-la no centro onde está. Embora o N me diga que tenho que me mentalizar que ela agora está assim não consigo. Não é que não consiga perceber e aceitar como está, não estou de todo em negação...só não consigo aceitar o que aconteceu e no que está perdido para todo o sempre. 
A avó tal como a conhecia está perdida, sim ainda ali estão pedacinhos dela, mas são apenas isso farripos de um ser que nunca mais será o que fora anteriormente. Nunca mais vou ouvir a voz dela em pleno, e se dava uso à voz...Dificilmente a verei subir as escadas carregada de nêsperas...E tantas outras coisas que nunca mais acontecerão.
É quase que castigo...várias vezes tinha questionado e afirmado que gostaria de ter conhecido as pessoas antes do avc para perceber o que realmente mudam de personalidade e se há coisas que já sabia a realidade sentida na primeira pessoa é bem mais assustadora e sem piada alguma. O que resta quando o que realmente vemos da outra pessoa é somente a embalagem, e mesmo essa está diferente, rosto caído, olhar vazio, corpo que não responde, faculdades que se perderam..."está tudo bem, vai ficar bem". Balelas que dizem e enganam quem não está por perto com esta realidade diariamente. Apetece-me dizer às minhas pessoas que nunca mais nada será como antes, mas eu limito-me a diminuir a esperança de uma forma menos violenta do que o faço a mim mesma. Aquele olhar vazio já o vi tantas vezes que preferia não saber o que digo, tal como a maioria que irá ler este texto não sabe do que falo, mas aquele olhar é o que me desmotiva mais a ir visitá-la. Serei eu fraca? Afinal de contas eu seria a pessoa na família mais bem preparada para lidar com a situação. E fui, a quente. Mas a frio, a médio, longo prazo sei exatamente o final da história e não gosto disso e não gosto do olhar que se perdeu que me confirma que a pessoa que era até ao domingo de Páscoa que se perdeu para todo o sempre.

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