quarta-feira, março 9

Vi este artigo de uma jornalista/blogger e identifiquei-me em pleno com as palavras dela...


Descobri tudo. Depois de dar muitas voltas à cabeça, de pensar porque é que faço parte da geração à rasca, já percebi onde é que está o problema. Os culpados foram os meus pais. É a eles que tenho de pedir contas por, aos 30 anos, estar longe, tão longe, do que imaginava em pequena. A culpa foi deles que me mandaram estudar. Que me disseram para fugir à mediania. Que me fizeram crer que a instrução era meio caminho andado para um bom emprego, um bom salário. Não te fiques pela licenciatura, filha. Não, aproveita e tira também duas pós-graduações e um mestrado, que o saber não ocupa lugar. E eu assim fiz, inocente, a achar que eles queriam o melhor para mim. Grandes trafulhas. Afinal não. Afinal parece que, depois de tudo isto, ainda tenho é de elevar as mãos ao céu, em jeito de agradecimento por ter arranjado emprego. Não interessa nada se nunca fui aumentada em anos, menos ainda se não ganho o que seria justo, o que mereço. Tenho é de anuir com a cabecita, olhar para quem ganha menos e sentir-me uma privilegiada. Como escreveu há dias a directora de um jornal, de que é que nos queixamos, se até ganhamos o dobro do que ganham os não licenciados? Olha-me estes, que só estudaram mais quatro ou cinco anos (no mínimo) do que aqueles que não foram para a universidade e agora acham quem merecem mundos e fundos. Pfffff! O pensamento é esse. A tabela nivela-se por baixo, nunca por cima. Temos sempre de olhar para quem está pior, nunca para quem está melhor. Faz-se a ode à pequenez, à satisfaçãozinha, ao “antes isso que nada”. 
E cá vamos andando, enrascados, pedindo a Deus que não nos deixe cair na teia dos recibos verdes e agradecendo com beija-mão um salário de três dígitos. Sacanas dos meus pais, que não me deixaram ficar pelo nono ano. 

Ana Garcia Martins

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